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PLURAL: os textos de Giorgio Forgiarini e Rogério Koff

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A lorota do millenium
Giorgio Forgiarini
Advogado e professor universitário


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Na falta de dados que indiquem com um mínimo de fidedignidade o tão propalado gigantismo da Máquina Pública, apela-se para tudo. Recentemente, um "estudo" elaborado por um tal de Instituto Millenium (curiosamente fundado por Paulo Guedes), foi divulgado com ares de sensacionalismo. Nele consta que a proporção do gasto com servidores públicos no Brasil em relação ao PIB é um dos maiores dentre 64 países pesquisados.

Ora, grande coisa! Até as pedras do Perau sabem que o PIB do Brasil caiu 6,8% em 2015 e 2016. É óbvio, portanto, que depois disso a relação gasto público/PIB estaria aumentada. Qualquer pessoa minimamente inteligente (e bem intencionada) concluiria que não é o gasto público que está alto, mas que o PIB está baixo. Não parece ser o caso de quem fez o "estudo", tampouco de quem o divulgou.

Ademais, vamos lá: Mesmo que essa alta relação entre gasto público e PIB não estivesse distorcida, ainda assim não significaria nada de ruim. Dentre os nove países com maior participação do serviço público no PIB, quatro são célebres pelos altos índices de desenvolvimento humano: Noruega, Islândia, Suécia e Dinamarca.

Por outro lado, os países com menor participação do setor público no PIB foram convenientemente omitidos pelo "estudo". Nenhuma surpresa. Dados da OCDE frequentemente esquecidos pelos "liberais" tupiniquins revelam que os países com menor participação do Estado na economia são os da África subsaariana, os quais vivem uma realidade que, pelo visto, se pretende ver instalada por aqui.

ALIENAÇÃO OU MÁ-FÉ?

O "estudo" indica também que o gasto com funcionalismo corresponderia a duas vezes o gasto com educação e três vezes o gasto com saúde. Tal afirmação, no entanto, evidencia apenas uma coisa: Na mentalidade da galera entusiasta do empreendedorismo de "startup", basta estalar os dedos para que pessoas sorridentes e dedicadas venham atendê-los, no melhor estilo "papai mandou".

Esquecem que dentre os gastos com educação e saúde estão justamente os salários de professores, psicólogos, médicos, enfermeiros, dentistas, dentre tantos outros servidores que efetivamente fazem a coisa funcionar. Ficam eles pasmos ao descobrir o óbvio: Trabalhadores merecem salários e não existe almoço grátis.

INTERESSES

As distorções remuneratórias não foram abordadas. Os entraves legais e institucionais foram ignorados. O excesso de formalismo no controle exercido sobre os gestores públicos não foi mencionado. Os problemas de verdade foram esquecidos, como, aliás, de hábito. Não me surpreende.

A intenção do "estudo" não é melhorar o serviço público, mas desprestigiá-lo para, desvalorizado, ser comprado a um preço mais baixo. Já escrevi aqui em outra oportunidade: O sonho do "liberal" brasileiro não é acabar com o Estado. É toma-lo para si. Só para si. Estão quase chegando lá.

Tolos, fraudes e militantes

Rogério Koff
Professor universitário

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Começo com o relato de uma experiência pessoal. No ano passado, um grupo de estudantes me procurou pedindo para que coordenasse a exibição e debate de um filme da produtora Brasil Paralelo, que realizava uma releitura do período militar no Brasil. Para tanto, solicitei um auditório da universidade. Ao final, militantes contrários ao filme fizeram um protesto. Alguns, mais exaltados, foram às redes sociais para me difamar e ameaçar. Nada como o bom e saudável ambiente universitário.

Ofensas à parte, alegavam que eu era um defensor da ditadura militar. Nada mais falso. A verdade é que o documentário mostra que a guerra suja que se intensificou no Brasil da época teve protagonistas diversos. Sabemos que houve terroristas de um lado e torturadores de outro. Porém, muitos dos patrulheiros que alegam defender a democracia são fãs de ditadores assassinos como Stálin, Mao, Fidel e Maduro. Isso sem falar no fato de que adoram corruptos.

ESQUERDA E DIREITA

No livro "Tolos, fraudes e militantes", Roger Scruton (1944-2020) revisitou os conceitos de esquerda e direita. Segundo o autor, os esquerdistas acreditam que os bens do mundo são injustamente distribuídos e que a culpa é das classes dominantes. A esquerda é contrária à livre iniciativa e acredita que o poder estatal deve controlar a atividade econômica em nome da busca de justiça social, ainda que isso signifique o sacrifício das liberdades individuais. Alguns alegam que é legítimo usar a força em nome de supostos "avanços sociais". Nos tempos de seu ídolo Stálin, a moda era colocar os oponentes burgueses no paredão. Hoje o fuzilamento é virtual, já que temos a cultura do cancelamento.

E você, caro leitor? Está disposto a defender a liberdade econômica e é contrário a redistribuições forçadas das riquezas geradas pela produção? Defende a propriedade privada como direito fundamental? Acredita que os menos favorecidos podem conquistar com seus próprios méritos posições melhores na sociedade? Defende a liberdade de expressão como valor absoluto? Eis os princípios da direita. Nas palavras de Scruton, "não há alternativa ao capitalismo que não seja a escravidão".

DITADURA? QUAL DITADURA?

Bem definidos os conceitos, vamos raciocinar. Há algum tempo foi possível pensar em ditaduras "de direita", que eram reações típicas à dualidade entre capitalismo e comunismo no contexto da Guerra Fria. Mas o mundo da Guerra Fria não existe mais. O capitalismo hoje é uma ideia autossustentável, e seria risível pensar em uma ditadura para impor seus princípios. Por isso, na atualidade só existem ditaduras de esquerda. Basta olhar para China, Cuba ou Venezuela e perceber que não encontramos correspondentes destas ditaduras no campo direito da política. Uma verdade que tolos, fraudes e militantes da esquerda não conseguem admitir.

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